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Desde a década de 90, o produto de exportação mais conhecido da Noruega tem sido seu Black Metal. Quando ele originalmente surgiu como um fenômeno durante a primeira parte da década, particularmente após uma série de assassinatos e incêndios de igreja perpretados por membros da cena Black Metal naquele país, muitos em latitudes menos setentrionais voltaram seus olhos para a Noruega pela primeira vez. Alguns imaginavam o que naquele país aparentemente pacífico, belo, e esparsamente populado nas fronteiras da Europa havia feito com que jovens lá desenvolvessem atitudes tão extremistas. Em Lordes do Caos, Michael Moynihan e Didrik Soderlind interpretam eventos a partir de uma perspectiva junguiana.
Agora, uns dezoito anos depois, a Noruega está de volta na consciência pública, uma vez mais por causa de atos violentos e homicidas cometidos por um de seus cidadãos. Isso, uns dois anos depois de Varg Vikernes, um músico ligado à cena Black Metal, um conhecido proponente do nacionalismo racial dentro da mesma, e por muito tempo o inimigo público número um da Noruega, ter sido solto da prisão, onde ele passou quinze anos. Anders Breivik veio agora para sucedê-lo no trono da infâmia.
Alguns podem querer associar ambos porque ambos desejavam, em suas épocas, provocar reações extremas através de atos extremos. Porque ambos parecem ser nacionalistas raciais europeus. E porque ambos rejeitam o status quo de uma maneira que é mais ou menos análoga, na medida em que há um antagonismo em relação a dois movimentos que são universalistas e igualitários, e que, de uma perspectiva pagã, estão ligados, um sendo a versão secular do outro. Vikernes rejeita o Cristianismo; Breivik rejeita o multiculturalismo, particularmente por causa do Islã. Previsivelmente, seus nomes tem aparecido em justaposição por toda a internet.
Porém Vikernes é um pagão, enquanto Breivik é um cristão. Assim, ideologicamente, para Vikernes que vê tanto o Cristianismo como o multiculturalismo como possuindo origens judaicas e servindo a interesses judaicos, Breivik permanece preso dentro de um universo fechado, cujas leis foram formuladas por movimentos que originaram-se na mente oriental.
Não surpreendentemente, a crítica de Vikernes a Breivik está em paralelo a observações chave feitas por Kevin MacDonald. Este último descreveu Breivik como um “conservador cultural do tipo de Geert Wilders, muito oposto ao etnocentrismo como estratégia, muito positivo em relação à Escolha de Viena, fanaticamente pró-Israel (que ele vê como ameaçada pelo islamismo militante), e muito hostil em relação ao Islã – o que nos EUA é chamado de um neoconservador”. MacDonald notou ademais que Breivik “ignora o papel das elites intelectuais judaicas na patologização de expressões de etnocentrismo por europeus desde a Segunda Guerra Mundial (particularmente pela Escola de Frankfurt) e em combater a base científica da legitimidade dos interesses etnorraciais (antropologia Boasiana).”
Vikernes acha a cegueira de Breivik em relação ao papel judaico nos desenvolvimentos políticos, culturais e demográficos europeus ao longo do século passado mais que curiosos. Considerando as ações de Breivik desprezíveis e completamente contra-produtivas, e notando seu status como maçom (que tanto ele como Greg Johnson veem como um tentáculo globalista judaico), Vikernes especula se Breivik não é mais do que um agente inconsciente. Eu não favoreço uma interpretação conspiratológica.
Ainda que ambas as “Bestas” reconheçam que o homem europeu e sua civilização estão ameaçados por forças externas, que a ameaça é significativa, e que ação é necessária, o inimigo é mutuamente exclusivo. Para Vikernes, o inimigo é o Judeu, o Cristianismo sendo uma força subversiva cirada por eles, e o Islã um idiota útil imperialista no conflito de civilizações. Para Breivik o inimigo é o Islã, os judeus e o Cristianismo sendo aliados – e no segundo caso, no núcleo – da Europa. Breivik não concebe os Cavaleiros Templários como uma ordem ariosófica gnóstica de guerreiros sagrados, como Miguel Serrano, fundada em princípios alquímicos, mas como guerreiros religiosos em um conflito geopolítico entre Europa Cristã e Oriente Muçulmano. Também, enquanto ambos reconhecem a natureza biológica da crise, para Vikernes o problema é fundamentalmente espiritual, enquanto para Breivik parece ser geopolítico. Assim, para o músico o conflito é interior, enquanto para o maçom ele é exterior, e é refletido nos aspectos megalomaníacos na narrativa deste último.
Assim, a violência de Vikernes, no que ela foi além de suas descordâncias com Oystein Aarseth, foi o que Jean Baudrillard chamou uma “violência simbólica”, que assumiu a forma de ataques incendiários contra emblemas, ou bases, do Cristianismo da Europa Nórdica. Porém, as igrejas incendiadas estavam vazias, e o Cristianismo há muito moribundo; sua única vítima foi um outro músico, pessoalmente conhecido dele, e o assassinato nada teve que ver com religião, mas com questões pessoais e comerciais. A violência de Breivik, por sua vez, foi dirigida a uma massa de indivíduos, pessoalmente desconhecidos a ele, que compunham uma classe política de compatriotas que ele considerava agentes de destruição. Vikernes atacou o símbolo de uma religião, mas não seus aderentes; enquanto Breivik atacou os aderentes de uma religião (marxistas culturais/ multiculturalistas/humanistas suicidas), ao invés do símbolo. Pode ser que a religião secular não tenha símbolos reconhecíveis, não-ambíguos, iconicos; mas do mesmo modo que para Osama bin Laden as torres gêmeas no World Trade Center em Nova Iorque representavam um símbolo do poder americano, e ele atacou-as correspondentemente, Breivik poderia ter atacado o símbolo do Islã, por exemplo, fazendo um desenho zombando de Maomé. Eu não estou falando inteiramente sério, é claro, mas, ao mesmo tempo, nós vimos há alguns anos como o ato pacífico de um artista na Dinamarca que fez apenas isso veio a representar um poderoso desafio simbólico, ainda que naquele caso tenha carecido de direção e tenha sido, portanto, mal-sucedido. Mas um desafio simbólico ao Islã poderia ter despertado uma reação exagerada entre muçulmanos na Europa que poderia ter criado algumas dificuldades para os marxistas culturais, multiculturalistas, e humanistas suicidas. Mas por outro lado, a violência islâmica pretérita na Europa teve nenhum efeito fundamental sobre a política governamental no que concerne a imigração e muçulmanos já assentados no continente; marxistas culturais e multiculturalistas, ainda que nervosos pelos efeitos instáveis e imprevisíveis de seu experimento social, permanecem no poder.
Na minha cabeça, o desafio simbólico de Breivik foi em muitos sentidos ilógico, mas em outros bem menos. Evolucionismo, centificismo, economismo, e seu pai, materialismo, já haviam dado um golpe decisivo contra o Cristianismo muito antes de que Vikernes tivesse chegado. Assim o ato acabou sendo um delito juvenil, quixotescamente filosofado após o fato. Porém, a longo prazo, porque ele criou curiosidade e fascinação pelo Black Metal entre fãs de música, e porque o Black Metal foi capaz de incitar poderoas emoções sombrias enquanto ao mesmo tempo garantindo uma narrativa alternativa tradicionalista, elitista e mística que era atraente entre as falhas da modernidade secular, serviu como uma plataforma para uma subcultura vibrante, que, ainda que girando ao redor de música, teceu junto cultura tradicional folclórica e uma ideologia völkisch pré-existente, ligada por um cordão dourado à múltiplas expressões contemporâneas da corrente anti-liberal. E o que é mais, Vikernes ele mesmo criou algo de valor duradouro, com oito álbuns lançados até agora, e sua música permanece popular. Através dela, e por virtude do interesse natural, identificação e empatia que ela desperta entre fãs de música em relação ao seu criador, Vikernes permanece influente, diretamente ou indiretamente, e os valores e ideais codificados em sua música e expressos em seus escritos, ainda que estes sejam lidos com algum grau de distanciamento irônico real ou fingido, serão parcialmente ou completamente absorvidos e internalizados por muitos, já tornados receptivos pelos estados psicológicos induzidos pela música. A transformação é difusa, gradual, irracional, majoritariamente inconsciente, e não atribuível a um único fator ou agente. O campo inimigo sabe bem disso, e usa o sistema educacional, a legislação, e a mídia de massa de informação e entretenimento para empurrar na direção oposta, para realizar uma transformação inversa.
Em contraste, eu acredito que o legado de Breivik será inteiramente negativo. Simpatia pelas vítimas e um desejo por políticos do sistema de demonstrar pureza ideológica, combinado com a natureza culturalmente antitética da maior parte da visão-de-mundo de Breivik, servirão como justificativa para a) um fortalecimento dos grilhões do Stalinismo Politicamente Correto, b) mais demonstrações de “virtude” antirracista, c) mais gestos de apaziguamento e acomodação em relação ao Islã, e d) hesitação entre aqueles preocupados com o futuro da Europa em identificar publicamente com idéias nacionalistas raciais. Ademais, eu duvido que Breivik influenciará qualquer um com seu gigantesco manifesto de 1518 páginas (que apenas um pequeno punhado lerão), particularmente devido a profundas e irreconciliáveis contradições em sua ideologia, a burrice subjacente, e o fato de que sua ideologia é definida por uma concepção negativa. Como é evidente por seu vídeo, é tudo sobre o inimigo, a Europa (biologicamente e geopoliticamente concebida) sendo importante apenas na medida em que encontra-se ameaçada. Isso contrasta com a ideologia de Vikernes, que, ainda que inicialmente elaborada com base em um desprezo pelo Cristianismo e o que ele percebeu como seus valores universalistas-igualitários-antimarciais, cresceu para ser sobre a Europa (biologicamente e espiritualmente concebida), os judeus, o Islã,e os marxistas culturais sendo importantes apenas na medida em que eles ameaçam a Europa. Assim, Breivik é – como ele descreveu-se – conservador (a negação do novo), e seu discurso sobre renascimento envolve restauração; Vikernes é tradicinal (afirmação do antigo), e qualquer discurso sobre renascimento envolve regeneração ou renovação. Afirmação é sempre mais apelativo que negação.
Em qualquer evento, nenhum começará uma revolução. Em meu livro, Mister, eu menciono a antiga ligação de Vikernes com a Frente Pagã Norueguesa, que em meu futuro distópico tornou-se ativa como um partido político. Porém, no livro Vikernes tornou-se um recluso, e, ainda que eu não diga-o, imaginei-o vivendo uma vida tranquila, em uma fazenda, perdido na paisagem. Breivik, um reciclador regressivo, enganado e enganador em mais de um nível, não tendo criado nada de valor, e tendo semeado morte inutilmente e dado a face para o descrédito da sua causa, terminará seus dias em uma cela de prisão, rotulado um “extremista de direita”, mas em realidade um agente e catalisador da involução, um escravo do Demiurgo, se você preferir, e metafisicamente um lacaio, ou instrumento, das forças das trevas na guerra oculta. Sua história pessoal sugere que ele pode ter acabado um agente das forças de decadência porque ele é seu produto, e portanto um insider, em oposição a um outsider – emblemático do problema e não, como ele parecia acreditar, a solução.
Source: http://legio-victrix.blogspot.com/search?updated-max=2011-07-29T18:29:00-03:00&max-results=20
Bestas%20da%20Noruega%3ABreivik%20and%23038%3B%20Vikernes
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