Superando o Corpo e a Mente Burguesas

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Giambologna, “Hercules Battles the Centaur Nessus,” 1599, detail, Loggia dei Lanzi, Florence

3,513 words

English original here [2]

“Eu caminho entre essas pessoas e mantenho meus olhos abertos; elas se tornaram menores e estão se tornando cada vez menores: mas isso é por causa de seus ensinamentos sobre felicidade e virtude. Tanta gentileza, tanta fraqueza eu vejo. Tanta justiça e piedade, tanta fraqueza. Suaves, justos e gentis eles são uns com os outros, como grãos de areia são suaves, justos e gentis uns com os outros”. – Zaratustra

Essa discussão da relação entre vitalidade corpórea e conceitual começou com dois tópicos históricos: a “eugenia espiritual” da Itália Fascista e a “eugenia propriamente dita” da Esparta de Licurgo. Na primeira, nós vimos que os fascistas desejavam transformar corpos burgueses fracos em corpos capazes de suportar o peso físico, moral e intelectual da revolução fascista, assim tornando a fisiologia central para o fascismo. Na segunda, nós vimos Licurgo demandar que os espartanos superem a decadência social pela transformação de suas expectativas e da posse de seus corpos.

O exemplo espartano, enquanto revelava as distâncias necessárias para a transvaloração corporal e social de comportamentos e valores decadentes, demonstrou também o poder do ideal grego. Esse ideal, que mantém a interconexão entre mente/alma e o que elas fazem com o corpo, levou à educação simultânea de mente e corpo. Licurgo promovia caráter e traços nobres e masculinos, enquanto limitava caminhos ao status de elite que não envolvessem o enobrecimento da mente pela devoção à guerra e ao sacrifício por Esparta.

Mesmo na descrição da Plutarco da Esparta de Licurgo, escrita uns 600 anos depois de Licurgo ter transformado seu Estado e povo, se vê a naturalidade do ideal grego. Pois em lugar nenhum Plutarco questiona a ideai de que ética e caráter tem algo a ver com o estado do corpo. Plutarco não estava nem mesmo surpreso de que Licurgo era capaz de vender um regime tão duro a seu povo. Talvez isso seja somente dedução da parte de Plutarco (e da nossa). A Esparta de Licurgo aconteceu. Se houve baixas entre o povo espartano – afinal, os modernos estão culturalmente programados a buscar dissenso quando ideais elevados e raros são “impostos” sobre um povo – então que assim seja. A história grega e romana, para não mencionar valores, dão pouca atenção a falhas; mas ao invés abrem vastos espaços para enobrecimento e enriquecimento através de exemplos de grandeza – o próprio ponto das Vidas de Plutarco.

A visão licurgana de vida, com as aspirações humanas focadas em um ideal, é certamente heroica no sentido homérico da palavra; pois o que finalmente se tornaria digno de elogios no pensamento grego – a harmonia platônica e a autorreflexão ociosa – era em Esparta dispensado como decadente. Competição, conflito, poder, ação e conquistas mundanas eram valores olímpicos partilhados por Licurgo e pelos heróis de Homero. E poderia ser dito que os espartanos e os heróis de Homero estão entre um pequeno punhado de homens ocidentais que alcançaram a imortalidade – algo a se considerar quando se examina literatura científica moderna motivada por um claro medo da morte. Ainda que heroísmo e glória (kleos) não sejam o ponto desse trabalho, eles estão implícitos nas reformas de Licurgo, pois as ações que garantiam a nobreza espartana culminavam neles.

Nossa atenção agora se volta para a ciência pós-moderna, especificamente para a Nova Biologia e sua promoção da epigenética como corretivo para a genética newtoniana/materialista. Ao fazê-lo, porém, devemos ter em claro: enquanto Mussolini, outros pensadores fascistas, e Licurgo colocavam o corpo nas trincheiras de uma guerra entre decadência lassa e nobreza dura, a ciência pós-moderna tende a compreender o que é melhor para o corpo como o que é melhor para o homem burguês. Assim, nós devemos ler suas teorias e conclusões contra as aplicações assumidas pelos próprios cientistas burgueses; pois a dureza, nosso objetivo, não é um ideal partilhado pela Nova Biologia, mesmo enquanto seus métodos demonstram o quão transformativa ela possa ser para o homem moderno. Em outras palavras, nós não mais temos o luxo e honra de sermos enobrecidos pela pesquisa. Em outras palavras, nós passamos de dizer Sim para dizer Não.

Corpo e Ambiente

Como a epígrafe do Zaratustra deixa claro, Nietzsche entendeu uma relação direta entre mente, corpo e ambiente. Ainda que ele vá ser discutido detidamente no próximo artigo dessa série, é suficiente dizer que Nietzsche compreendeu o humano como uma série de tipos criados em conjunção com as necessidades morais e sociais das várias formas de vida humana. Os homens modernos, como ele diz acima, estão sendo tornados fracos pela vida mole, confortável e igualitária prometida pela modernidade burguesa. E ainda que o contexto fosse diferente para Licurgo, tanto a Itália Fascista como a Esparta de Licurgo partilhavam do entendimento de Nietzsche sobre o homem e a sociedade. O epigeneticista (e neobiólogo) Bruce Lipton também o faz, explicando sucintamente que o ambiente exerce algum controle sobre a atividade dos genes humanos.

Lipton está trabalhando à sombra de Jean Baptiste de Lamarck, o evolucionista que acreditava que traços individuais adquiridos como resultado da influência ambiental poderiam ser transmitidos transgeneracionalmente. Na verdade, essa ideia básica de Lamarck, conhecida como “herança suave”, forma a própria base da ciência epigenética. Enquanto Lamarck foi influente em meados do século XIX e novamente em meados do século XX), sendo lido com entusiasmo por muitos dos principais fisiólogos da época, sua obra foi desacreditada entre os evolucionistas após o sucesso da publicação de A Origem das Espécies de Darwin em 1859. Muitas das suposições de Darwin, tais como a responsabilidade de  fatores hereditários transmitidos no controle dos traços da prole, foram construídos em contradistinção direta a Lamarck. E mesmo ainda que Darwin tenha vindo a lamentar a falta de atenção dada aos fatores ambientais na modificação de material genético, a ciência genética moderna veio a ser dominada pelo determinismo inerente ao A Origem das Espécies.

Ainda que “determinismo genético” possua uma conotação negativa em uma pós-modernidade (popularmente) comprometida com a negação da primazia genética – ao menos no que concerne as proclividades raciais ou de gênero para a excelência ou para a mediocridade – na comunidade científica (genética) esse tem sido um importante controle nas metodologias e hipóteses. A genética clássica, especialmente a obra de Thomas Morgan e a obra redescoberta de Gregor Mendel, foi essencialmente construída dentro do universo conceitual da seleção natural darwiniana, buscando identificar o material hereditário que se acreditava controlar a vida orgânica.

Crick e Watson acreditavam ter encontrado esse material em 1953 quando eles descobriram o DNA, chegando até mesmo a criar o Dogma Central, ou primazia do DNA. A primazia do DNA fornece a lógica para o determinismo genético, reduzindo a vida orgânica a uma série de proteínas codificadas no DNA que representam o determinante primário dos traços de um organismo. Mas ao início do século XXI, o Projeto Genoma Humano (de agora em diante PGH) lançou dúvidas sobre a primazia do DNA, demonstrando que não há genes suficientes para dar conta da complexidade humana. Enquanto muito da ciência do século XX assumia uma razão 1-1 de genes e proteínas construtivas do corpo humano – o que representaria aproximadamente 120.000 genes – o PGH encontrou ao invés somente 25.000; deixando inexplicados 80% dos genes presumidos necessários para a vida e comportamento humanos.

O geneticista David Baltimore interpretou os resultados do PGH como um chamado para a primazia do ambiente, o que nos leva à epigenética. A epigenética, ou “controle sobre a genética”, oferece um modelo explanatório capaz de responder as perguntas levantadas pelo PGH. A pesquisa epigenética recente estabeleceu que a planta do DNA transmitida através dos genes não está firmada em pedra no nascimento, mas ao invés responde ao seu ambiente. Em outras palavras, genes não são destino. Influências ambientais, “incluindo nutrição, estresse e emoção”, podem modificar os genes, sem modificar sua estrutura básica.

Ao focar nas proteínas cromossomais regulatórias às quais os filamentos de DNA se ligam, os epigeneticistas tem sido capazes de discernir as funções fisiológicas dos cromossomos independente de DNA, sugerindo um fluxo mais sofisticado de informação através das células humanas. A biologia, segundo esse pensamento, começa com um sinal ambiental, então vai para uma proteína regulatória e apenas então para DNA, RNA e o resultado final, uma proteína.

Porque a pesquisa científica focou primariamente na planta do DNA, as contribuições à hereditariedade humana feitas pelo ambiente passaram majoritariamente desapercebidas. Essas contribuições se manifestam primariamente através de impulsos que ativam doenças hereditárias como o câncer. Predisposições genéticas, em outras palavras, não são em si mesmas causas de doença. Na verdade, somente 5% daqueles que sofrem de câncer ou doença cardiovascular podem atribuir sua aflição à hereditariedade. Mas se o ambiente pode ativar uma doença, ele também pode prevenir doenças.

A fluidez e responsividade final do genoma a fatores ambientais – sejam eles internos ou externos ao corpo – efetivamente nos leva de volta a Mussolini, Licurgo e Nietzsche. Pois ainda que eles não estivessem em uma posição de compreender o corpo nos termos da ciência pós-moderna, sua insistência em uma relação entre corpo e concepção é cientificamente justificada pela epigenética – especialmente quando consideramos as consequências fisiológicas da ciência quântica.

Célula, Corpo e MenteEinstein revelou que nós não vivemos em um universo com objetos físicos, discretos, separados por espaço morto. O universo é um todo indivisível e dinâmico em que energia e matéria estão tão profundamente emaranhados que é impossível considerá-los como elementos independentes.

Quando cientistas estudam as propriedades físicas dos átomos, tais como massa e peso, eles olham e agem como matéria física. Porém, quando os mesmos átomos são descritos em termos de potenciais de voltagem e comprimentos de onda, eles exibem as qualidades e propriedades de ondas de energia; levando à conclusão de que energia e matéria são a mesma coisa. Para epigeneticistas, esse modelo de energia e matéria permitiu que mente e corpo fossem reunidos, com vários cientistas – entre eles o Dr. Lipton – buscando explicar como o pensamento, como a energia da mente, controla a fisiologia do corpo. O trabalho de Lipton efetivamente demonstrou uma relação direta entre pensamento e o comportamento de proteínas cromossomais regulatórias, tornando possível inferir a habilidade de um indivíduo em sobrepujar a programação genética.

Cada célula é um ser inteligente que pode sobreviver por conta própria, como os cientistas demonstram quando eles removem células individuais do corpo e os transformam em uma cultura. Similarmente, cada célula individual realiza as funções biológicas realizadas por cada sistema de nosso corpo. Cada eucariota (célula possuidora de núcleo) possui o equivalente funcional de nosso sistema nervoso, digestivo, respiratório, excretor, endócrino, muscular e esquelético, circulatório, tegumentar, reprodutor e até mesmo um sistema imunológico primitivo, que utiliza uma família de proteínas similares a anticorpos.

Como humanos, as células solitárias analisam milhares de estímulos do microambiente em que elas habitam. Pela análise desses dados, as células selecionam respostas comportamentais apropriadas para garantir sua sobrevivência. Células singular são também capazes de aprender através dessas experiências ambientais e são capazes de criar memórias, tais como imunidades, que elas transmitem a sua prole.

Lipton crê que é possível explicar o comportamento de humanos através de uma melhor compreensão das células individuais. E colocando de modo simples, o ser humano é somente uma coleção de trilhões de células, cada uma consciente, e respondendo ao ambiente – incluindo a energia corporal. Finalmente, Lipton aponta para a primazia dessa energia em controlar o comportamento celular. E, algo previsivelmente dado suas proclividades americanas pós-modernas para o ecumenicalismo, ele ponta para a “percepção” como uma influência importante na direção e contornos da energia corporal.

Se acreditamos que há algo útil na epigenética e nos resultados dos estudos celulares de Lipton, e acreditamos, então é certamente não o mesmo valor de uso assumido pelo próprio Lipton. Como mencionado acima, Lipton está confortável com a ideia de que o corpo e cada uma de suas células pode ser cuidado pelo controle de “nutrição, estresse e emoção”. Porém, em lugar algum em seu trabalho o valor positivo da forma de vida burguesa é questionada em relação a isso. O Dr. Lipton (e certamente não só ele) parece assumir a normalidade da preguiça, da glutonia e do filistinismo cultural que fornece o conteúdo da vida americana contemporânea como de valor positivo para o corpo humano natural, desde que se gerencie adequadamente esses três fatores ambientais.

Dureza Destrói Decadência

A pesquisa epigenética aponta para a fluidez de massa e energia. Essa fluidez nos fornece um modo científico de compreender o ideal grego, bem como um modo científico de explicar o que Yukio Mishima compreendeu instintivamente sobre o corpo: que sem resistências, nós nos tornamos espiritualmente e fisicamente flácidos e dóceis. No espírito do Sol e Aço de Mishima, nós deixaremos de lado “nutrição, estresse e emoção”, ao menos ao modo como os cientistas burgueses os assumem, e focaremos ao invés no exercício e em seu papel em criar e sustentar vitalidade. Ao fazê-lo, nós também demonstraremos o grande potencial da epigenética como ferramente dirigida contra a forma burguesa de vida.

O ataque de Mishima contra a modernidade era muscularmente motivado. Ademais de sua conceitualização do heroísmo e da vida heroica – ambas as quais demandam músculos para serem alcançadas – Mishima compreendeu uma relação fisiológica entre palavras e corpos. Os primeiros, ele disse, são figurativamente projetados nos segundos; e o corpo, como o repositório natural de palavras, conceitos e sistemas gramaticais (epistêmicos), é um medidor melhor do estado “espiritual” de um homem do que seus pensamentos. Isso é porque o corpo, segundo Mishima, possui uma relação mais próxima com as ideias do que o “espírito”.

Assim, o corpo se conformará a qualquer ideal que se tenha como objetivo. No mundo homérico, a nobreza demandava músculos, porque o heroísmo era o caminho para a nobreza. Mas assumindo uma abordagem epistêmica à idealização do heroísmo de Licurgo, Mishima explicou que, sem palavras, os corpos jamais teriam se conformado a um ideal grego. Não obstante, Mishima também seguiu o caminho de Licurgo através da fisicalidade ao ideal mais elevado da consciência. O aço, como ele disse, ensina o que as palavras não conseguem.

Como Nietzsche, que também usava modelos fisiológicos de consciência, os pensamentos de Mishima sobre o corpo realmente ganham asas quando se passa do corpo individual ao ambiente no qual ele recebe sentido. Geralmente falando, Nietzsche compreendeu que os corpos humanos refletiriam os sistemas éticos e morais em que eles viviam. Mishima assume uma abordagem similar, compreendendo que os corpos refletem os ideais do dia (em questão). Assim, enquanto os gregos idealizavam força e coragem – o suficiente para colocar esses entre os ideais mais valiosos aos quais um homem pode aspirar – a modernidade idealiza o julgamento passivo e a docilidade resignada. Enquanto tal, o heroísmo é tornado um inimigo do povo, a história é privada de exemplos singulares, e homens são ensinados a viver em sistemas codificados através dos quais o possível é popularizado. Os músculos, a base do heroísmo, não possuem valor e são resignados à extinção.

No ambiente moderno decadente descrito de Mishima, a boa forma física não é o ideal; pois a boa forma física é ela mesma burguesa e decadente – mais um veículo para promover o hiper-consumo e o individualismo superficial e auto-congratulatório. O que é ideal é a dureza. É o corpo sendo transformado pela resistência (aço) de flácido e moderno a duro e clássico – não por como ele “parece” (mesmo que isso seja importante) mas pela transformação conceitual que deve ter acompanhado a do que é aparente. Mishima demanda que consideremos quantas de nossas metáforas conceituais como o cinismo e a imaginação estão apoiadas em um senso de inferioridade física e preguiça.

Diferente de Nietzsche, que – para ser lido corretamente – demanda que o leitor veja muito do Último Homem em si mesmo, Mishima parece mais frutífero para aqueles já iniciados nas afecções transformativas do aço. Em outras palavras, é duro entender a transformação que Mishima descreve a não ser que se tenha passado por uma transformação similar. Uma percepção ampliada, ou consciência, através da dureza física é algo que se deve experimentar por si mesmo.

Mas, se nós brevemente nos voltarmos de novo para a ciência, nós podemos ter uma imagem clara de como o corpo reage à dureza. Restringindo nossa discussão somente à testosterona, é possível demonstrar que a mente e o corpo são igualmente transformados pela atividade física dura. Treinamento com pesos breves e com alta intensidade são a maneira mais eficaz de promover grandes aumentos em níveis de testosterona. Testosterona é o principal hormônio sexual nos homens, não somente guiando a libido mas também a experiência prazerosa de encontros sexuais. Ademais das funções sexuais, a testosterona é crítica no desenvolvimento e manutenção da massa muscular e dos ossos.

Porém, estudos do impacto da testosterona na mente também confirmam o valor da dureza física para a cognição. Um desses, publicado em 2006, demonstrou habilidades visual-espaciais, cognição/recognição, e sensos de vitalidade e estima ampliados em homens com altos níveis de testosterona (versos estrogênio). Quimicamente, esses efeitos são causados pelo impacto da testosterona sobre o hipotálamo, o “centro nervoso” da produção e distribuição de hormônios, e o “centro de comando das emoções”. Vários homens com os quais discutimos esse artigo – incluindo músicos de jazz vencedores do Grammy – apontaram para a importância da musculação no estímulo da criatividade, da clareza e da concentração.

Como muito do que descrevemos sobre o ideal grego, há uma relação bidirecional entre usar testosterona e muscularidade. Quando a massa muscular do corpo se eleva, sua taxa metabólica – seja ativa ou em repouso – também se eleva. Isso significa que o corpo tem que trabalhar mais para suportar a massa muscular aumentada. Tudo o mais sendo igual, o corpo utilizará mais gordura como combustível para conseguir realizar essa tarefa. Isso é importante porque há uma relação inversa entre níveis de gordura e testosterona, enquanto há uma relação direta entre níveis de gordura e estrogênio. Assim, um alto nível de gordura em relação a massa muscular possui um efeito deletério sobre os hormônios, a vitalidade e a concepção.

Conclusão

Não é o propósito desse artigo, o terceiro em uma série de quatro, argumentar contra a importância da genética na determinação no conteúdo das vidas humanas. Ao contrário, o artigo busca explicar a importância do ambiente e do comportamento pessoal no funcionamento adequado e óptimo do material genético humano. Nossa esperança era usar a ciência, não para justificar a compreensão instintiva de Nietzsche, Mishima, Licurgo ou Mussolini sobre o corpo, a mente e a sociedade, mas para convencer os homens contemporâneos a colocarem a fisiologia no centro de uma revolta contra a modernidade burguesa.

Tanto a epigenética como a ciência hormonal demonstram que o ambiente manipula corpo e mente. Através da dureza (nesse caso, musculação intensiva) é possível colocar uma distância considerável entre si e o ambiente da modernidade burguesa.

A forma de vida burguesa cria o corpo que ela necessita – máquinas obesas e preguiçosas de obediência que consomem alimentos, estilos de vida e remédios inventados pelo capitalismo – com a mesma regularidade e objetividade que a Esparta de Licurgo. Onde um busca decadência e consumo, o outro buscava pureza e heroísmo. Mas mesmo se concordarmos com Nietzsche de que há algo de diminutivo sobre os corpos modernos quando comparados aos produzidos pelas narrativas clássicas de grandeza, nobreza, competição e beleza; e mesmo se o corpo moderno haja sido ativamente disciplinado por processos disgênicos; nós ainda partilhamos da mesma escolha que aquela primeira geração de homens espartanos: fraqueza ou força.

O ambiente burguês moderno dirige o corpo de uma maneira, em direção à suavidade, à doença e à preguiça. Uma revolta contra essa forma de vida deve transvalorar esse processo. O valor final da epigenética não reside somente em fornecer dados científicos para apoiar as compreensões filosóficas tradicionais e contra-iluministas da relação entre sistemas sócio-conceituais e a forma e conteúdo dos corpos, mas também em tornar claro que o corpo desempenha um papel crítico tanto em nossa escravidão, como na nossa liberação, da modernidade burguesa.

Mas a fisiologia decadente, por pior que seja, é composta pela crença contra-moderna de que o conteúdo de nossos pensamentos combina com a forma de nossos corpos. A fraqueza física se acreditava (por Mussolini, Licurgo, Nietzsche e Mishima – só para nomear as figuras importantes nessa série de artigos) representar tanto a causa como efeito da fraqueza ética e conceitual. Certamente, o exemplo individualizado de Mishima da desconfiança das ideias dos preguiçosos, e o olhar pós-cristão de Nietzsche sobre as devastações dos “odiadores do corpo” fornece rupturas na narrativa da decadência fisiológica burguesa. O enobrecimento, como ambos nos lembram, está naturalmente associado com a força.

A ciência epigenética e a Nova Biologia parecem contentes em promover o fortalecimento físico como meio de prevenir a enervação fisiológica, como a mente busca (para eles) a mesma tranquilidade decadente e ócio que até o corpo “apto”. Ao invés, nós estamos discutindo que a enervação é o estado normal da mente e corpo burgueses e que a baixa testosterona e vitalidade são consequências diretas dessa forma de vida. O que nós prescrevemos para alcançar nosso potencial fisiológico e conceitual não é tranquilidade e ócio, mas dor e dureza. Essa série de artigos concluirá com um exame das ideias de Nietzsche sobre essa questão.

Source: http://legio-victrix.blogspot.com/2012/11/superando-o-corpo-e-mente-burguesas.html [3]